terça-feira, 11 de outubro de 2011

CASA DEMOLIDA

Casa onde foi fundada a Umbanda, em São
Gonçalo, é demolida.

QUE NOS SIRVA DE
LIÇÃO!
Por Gerônimo Lima.
Nada mais podemos fazer a não
ser lamentar, o povo da Umbanda teve
que assistir mais uma cena de
descaso com nossa religião, a
destruição do imóvel onde aconteceu a
primeira sessão de Umbanda no
Brasil, o marco inicial de nossa
religião virou pó, mais uma vez fomos
atingidos pela intolerância com nossa religião, mas afinal, de quem é a culpa?
Para responder a esta pergunta nada melhor que acompanharmos o desenrolar dos fatos e
perceber que o descaso com aquele patrimônio é o resultado da falta de união do povo umbandista,
afinal, a casa centenária que abrigou a primeira sede da Tenda Espirita Nossa Senhora da Piedade
estava abandonada havia tempo; pelo visto nunca houve uma preocupação de preservar aquele
imóvel.
É habito de nosso povo manter de pé as construções que significaram algo para nossa
cultura.
Vejamos o exemplo da Igreja Católica, que tem grande parte de seus templos protegidos pelo
IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), se hoje esses Templos estão
tombados não foi por acaso, houve sem dúvida, interesse e união da comunidade católica em
preservar seus bens, pois reconhecem a importância de preservar sua memória cultural na figura de
um templo.
Isto não significa um retrocesso, mas sim uma forma de não deixar morrer os vestígios de seu
passado. E a Umbanda, o que faz para preservar sua memória?
Estamos muito preocupados com as atividades de nossos templos que deixamos muitas
vezes nos levar pelo nosso egoísmo, não enxergando a Umbanda com coletividade. Estamos cada
vez mais individualistas, é um grande paradoxo: - Nos preocupamos com nosso terreiro e não nos
preocupamos com a Umbanda.
Chega! Chegou a hora de olharmos a Umbanda como um todo, é o momento de sairmos de
nosso “mundinho”, fechado nas paredes de nossos templos e olharmos para a nossa religião,
observar que somos partes de uma coletividade e que, se não caminharmos juntos por um mesmo
ideal, assistiremos aos poucos as paredes de nossas tradicionais casas de Umbanda espalhada por
esse imenso Brasil ruírem e caírem no esquecimento.
Memória prestes a virar pó: casa dará lugar à loja e depósito Foto:
Roberto Moreyra / Extra.
Jornalnacionaldaumbanda.com.br São Paulo, 10 de Outubro de 2011. contato@jornaldeumbanda.com.br Pág. 4
Não adianta negar, nós temos um passado e precisamos preserva-lo, pois quem não tem
passado, não tem futuro.
Gerônimo Lima.
Acadêmico do Curso De História da Universidade Federal de Rio Grande.
Rio Grande – RS
CASA COMEÇA A SER DEMOLIDA.
Por Rosiane Rodrigues.
Ontem, às 17 h, a Congregação
Espírita entregou ao Advogado Mario
Gomes documentos para que ele
entrasse em juízo com uma liminar
sustando a demolição. Uma medida no
ínterim da decisão do IPHAN
(protocolamos um requerimento no
IPHAN em caráter emergencial no dia
03/10) e da Prefeitura de São Gonçalo,
mas infelizmente a Casa da Umbanda
foi demolida, antes da entrega do
documento, pela inércia da Prefeita,
conforme reportagem do Extra de
05/10.
Transcrevemos abaixo a matéria da jornalista Rosiane Rodrigues pertinente ao caso.
“Demolição da memória religiosa” - A caminho da teocracia.
A demolição do prédio (que já deveria ter entrado para história como cenário do nascimento
da única religião absolutamente brasileira) é apenas um sintoma do descaso com que determinadas
religiões são tratadas pelo poder público. Trata-se da casa que abrigou o médium Zílio de Moraes,
que ao incorporar o Caboclo das Sete Encruzilhadas, deu início às primeiras doutrinas umbandistas
e que, segundo informações do Jornal Extra, virá abaixo para dar lugar a um galpão com fins
comerciais.
A construção centenária, localizada no bairro de Neves, no município de São Gonçalo, região
metropolitana do Rio de Janeiro, poderia livrar-se de tal fim se a prefeita da cidade o declarasse
patrimônio cultural. Simples assim.
Como num passe de mágica, todo impasse estaria resolvido. São Gonçalo tem a segunda
maior população do Rio de Janeiro e um dos maiores índices de criminalidade do Estado. Nas
últimas semanas, a cidade apareceu em todos os noticiários pelo assassinato de uma juíza que
tentava combater a corrupção e o extermínio de jovens, em sua maioria negros, no município. É
também uma cidade marcada por denúncias de intolerância religiosa.
Em 2009, o promotor Pedro Rubim, da Procuradoria da Educação do MP Estadual, em um
relatório sobre a inconstitucionalidade do ensino religioso confessional, acusou formalmente a
administração de duas escolas da cidade de proselitismo e também por discriminar alunos
praticantes de religiões afro-brasileiras. O que mais chama atenção nessa história é a ironia. A
cidade que há pouco mais de um século via nascer uma das maiores expressões da religiosidade
afro-brasileira, misto do sincretismo entre os santos católicos e os orixás africanos, é hoje
administrada por um governo com pretensão teocrática cristã.
A prefeita, Aparecida Panisset, não esconde suas convicções religiosas. É declarada como
evangélica, eleita com os votos da Igreja Universal do Reino de Deus e outras denominações
neopentecostais. Digo "declarada" porque ser evangélico é completamente diferente de ser
neopentecostal, em vários aspectos. Evangélicos tradicionais respeitam outras expressões religiosas
e valorizam a diversidade. De qualquer forma, sabemos que expressar confissão religiosa é, em si,
um direito constitucional.
E nisso, a prefeita deve ser defendida.
Jornalnacionaldaumbanda.com.br São Paulo, 10 de Outubro de 2011. contato@jornaldeumbanda.com.br Pág. 5
O problema é que os religiosos de matriz africana - e também os católicos - desconfiam que a
miopia histórico - cultural do chefe do Executivo Municipal - em deixar que um casarão centenário,
palco de um dos momentos mais significativos do nascimento da Umbanda, seja demolido - esteja
intimamente ligada a sua religiosidade. Como sabemos, a base da doutrina neopentecostal é a
demonização e discriminação dos cultos africanos.
Católicos também não são poupados pelos neopentecostais, pois são acusados de idólatras
por terem imagens de santos nas igrejas. Alguns estudiosos dizem que a lógica é simples. Há quem
diga que a prefeita está utilizando os mesmos métodos dos donos de escravos que, ao aprisionar
milhares de pessoas nos porões dos navios e das senzalas, tentavam extirpar o que há de mais
precioso no ser humano, que é a sua memória. Para eles, fazer com que as pretensas minorias
esqueçam o passado é uma das mais cômodas formas de prisão.
Encontrei textos que afirmam que a desvalorização cultural e religiosa de judeus e ciganos
também foi uma das muitas estratégias utilizadas pelo III Reich, na Alemanha do século passado.
Outros, menos afeitos a análises acadêmicas, insistem que o problema da prefeita é,
unicamente, uma deformação política. Não creio que a prefeita do segundo maior município do
Estado tenha pretensões escravocratas ou entenda de nazi fascismo. Mas, se não repensar suas
atitudes pode acabar entrando pela porta dos fundos da história sócio-cultural-religiosa do Rio de
Janeiro.
"Ou, o que mais deve importar para quem precisa de votos de quatro em quatro anos, acabar
saindo pela vala comum desse imenso esgoto, no qual se transformou a política eleitoral."
Rosiane Rodrigues é jornalista, especialista em História do Holocausto e pós-graduanda em
Relações Étnicas raciais.
Fonte: http://uniaowiccadobrasil.com.br